Versos, Sons, Ritmos. Norma Goldstein (Resumo)


O livro objeto do presente fichamento esta subdividido em 13 (treze) capítulos, dos quais, 11 (onze) abordam de forma pormenorizada a maneira como se compõem os poemas, suas características próprias (quem o escreveu?; quando foi escrito?; qual sua finalidade?;a mesma leitura de hoje é a do passado?) sua correta interpretação sonora, rítmica, métrica, metafórica, das figuras de linguagem e dos níveis de análise. Os dois últimos capítulos expõem respectivamente os vocabulários críticos e a bibliografia comentada.

Trata-se de uma obra que permite ao leitor estudar e adquirir ótima base para compreensão de obras mais complexas.

O fichamento abaixo apresentado respeita a abordagem feita por capítulos e assim apresentará o livro em forma de citação e conteúdo.

 1. A unidade do poema

O poema possui características próprias, que o diferencia de outras obras não literárias, neste ponto, cumpre diferenciar o texto literário do não literário, que nas melhores palavras da autora, podem assim ser definidos:

“Nos textos comuns, não literários, o autor seleciona e combina as palavras geralmente pela sua significância. Na elaboração do texto literário, ocorre uma operação, tão importante quanto a primeira: a seleção e a combinação de palavras se fazem muitas vezes por parentesco sonoro. Por isso se diz que o discurso literário é um discurso específico, em que a seleção e a combinação das palavras se fazem não apenas pela significação, mas também por outros critérios, um dos quais, o sonoro. Como resultado, o texto literário adquire certo grau de tensão ou ambigüidade, produzindo mais de um sentido. Daí a plurissignificação do texto literário.” (p. 05) Grifos nossos.

Realmente o texto literário se caracteriza pela combinação de significação, ritmo, sonoridade e sintaxe o que não é observado no texto não literário.

Por outro lado interpretar e analisar um poema “não tem receita”, requer a sua leitura e releitura e a observância de algumas questões como: o texto e contexto (observar em que realidade o poeta criou a obra), quem o escreveu, qual a sua finalidade, quando foi escrito e a forma como pode ser lido. Dificilmente o poema possui uma única interpretação, de sorte que só podemos afirmar se uma análise esta adequada ou inadequada.

Não obstante o conceito trazido pela autora sobre plurissignificação, o certo é que o texto literário possui uma equilibrada dicotomia entre forma e conteúdo, que são abordados nos capítulos seguintes por meio de exercícios de escansão e analise de outros artifícios, senão vejamos

2. O ritmo do poema

Na realidade o ritmo esta presente em tudo o que se refere à comunicação do homem (fala, sentimentos, música, etc.), na poesia, em especial, é visível por seu caráter oral, musical, sonoro, pois, como foi criada para ser recitada, nossa audição capta a articulação das palavras do texto (ainda que sua leitura seja silenciosa).

Neste capitulo é exposto à importância do ritmo do poema e das propriedades sonoras, iniciando-se pela musicalidade (percebendo o compasso), em que Norma Goldstein utiliza a canção “A banda”, de Chico Buarque de Holanda como exemplo, demonstrando o apelo do texto por conta da harmonização entre todos os seus elementos, sendo possível sua percepção através da marcação das sílabas poéticas:

“Es – TA - va à – TO – a – na -Vi (da),

  1      2       3         4       5     6      7

O – meu –a – MOR – me – cha – MOU,

1      2       3      4       5         6      7

Pra – ver – a – BAN – da – pás – SAR

1      2        3      4       5         6      7

Can – tan – do – COI – sas – de a –MOR.

1        2       3        4       5         6      7                (grifos nossos)

 
Esquema rítmico: ER7 (2-4-7); Redondilha maior. As sílabas 2, 4, 6 são as mais fortes. O ritmo simples e repetitivo facilita a memorização, além da alternância entre sílabas fortes e fracas, que é a cadencia do poema. Destarte, existe também repetição dos sons: “T” (1ª linha), “M” (2º verso), “P” (3º verso) e “Q” (4º verso) e em todos os versos existe a repetição da vogal “a”, tais repetições remetem ao som das percussões da banda e marca o compasso da marcha, ritmo que percorre todo o poema.

Segundo a interpretação apresentada pela autora: “A banda rompe com o quotidiano das pessoas, que se põem a ouvi-la, levadas por um feitiço irresistível. Enquanto ela passa, dura o encantamento, a ilusão. Depois tudo volta a ser como antes: Mas para meu desencanto...” (p. 10).

No poema seguinte, “José”, de Carlos Drummond de Andrade, a autora aponta palavra-chave (aliteração em “se”) e jogo de sons (alternância entre sílabas fortes e fracas).

Por fim, porém igualmente relevante, está à noção de métrica (medida do verso), nos sistemas: quantitativo (que divide os versos em pés ou segmentos, compostos de sílabas longas e sílabas breves) e silábico (que determina a posição das sílabas fortes em cada tipo de verso). Atualmente se valoriza as unidades rítmicas e não mais a contagem silábica dos versos. Passou-se também a analisar os versos livres, inovação dos modernistas.

3. Ritmos

Segundo a autora, a vida cotidiana dos séculos passados era mais organizada/padronizada, de sorte que os poetas escreviam segundo um estilo padronizado, com regras e métricas modelos, com o passar dos anos, as sociedades se desproveram dos padrões tornando-se imprevisível, refletindo na literatura essa liberdade, deixando os poetas de seguirem modelos fixos. A seguir, Norma Goldstein, aborda a simetria e assimetria da escansão dos versos, presentes nos dois períodos.

Simétricos são aqueles versos que possuem a mesma medida, como por exemplo, no poema “Remorso”, de Olavo Bilac, todo escrito em versos decassílabos, observando-se, para tanto: a divisão das sílabas poéticas que terminam na última sílaba tônica, elisão, união por vogais átonas e silabas tônicas que acentuam o ritmo das sílabas poéticas.

Quanto aos versos assimétricos, são aqueles criados no inicio do século XX, soltos e distantes das regras métricas tradicionais (a autora utiliza o poema “O poeta come amendoim”, de Mario de Andrade).

4. Sistemas de metrificação

A autora apresenta a marcação de versos, utilizadas por gregos e latinos, marcação tradicional e latina, ambas utilizadas para dar ritmo aos versos, embora com objetivos diferentes, posto que a marcação latina era utilizada para marcar as falas dos atores nos teatros gregos, enquanto a marcação tradicional serve para recitar o poema com um padrão de qualidade elevado.

Na marcação latina a contagem e o ritmo dos versos são definidos pelo tamanho da pronunciação das sílabas das palavras, designada por “pés” (com alguns tipos específicos: pé jâmbico, pé trocaico, pé espondeu, pé dátilo e pé anaspesto ou anapéstico), já na marcação tradicional, as sílabas poéticas são definidas pela tonicidade de certas sílabas, pela elisão e pela sílaba tônica da última palavra. Nesta última marcação, a métrica é contada de uma a doze e os versos são nomeados da seguinte forma: monossílabos, dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos (ou redondilha menor), hexassílabos (heróico ou quebrado), heptassílabos (ou redondilha maior), octassílabos, enassílabos, decassílabos (medida nova), hendecassílabos, dodecassílabos (ou alexandrinos).

5. Versos

A autora ocupa-se em descrever e exemplificar os diferentes tipos de versos, separando-os em quatro tipos:

- Versos Regulares: “são aqueles que obedecem as regras clássicas, determinando a posição das sílabas acentuadas em cada tipo de verso. As rimas aparecem de modo regular, marcando a semelhança fônica no final de certos versos”. (p. 35)

- Versos Brancos: Obedecem as regras métricas, porém, não possuem rimas.

- Versos Polimétricos: são os versos regulares de tamanhos diferentes, com sílabas fortes localizadas nas posições indicadas pelas regras métricas tradicionais.

- Versos livres: “são aqueles que não obedecem a nenhuma regra já estabelecida, quanto ao metro, à posição das sílabas fortes, nem a presença ou regularidade de rimas.” (p. 37).

 
6. Estrofes

Segundo a autora “estrofe é um conjunto de versos, e após uma estrofe há uma linha, separando-a de outra, determinando assim cada uma, que em conjunto formarão o poema.” (p. 38)

As estrofes são denominadas de acordo com a quantidade de versos: dístico (dois versos); terceto (três versos); quadra ou quarteto (quatro versos); quinteto ou quintinha (cinco versos); sexteto ou sextilha (seis versos); sétima ou septilha (sete versos); oitava (oito versos); novena (nove versos); décima (dez versos).

7. Rimas

“Rima é o nome que se dá à repetição de sons semelhantes, ora no final de versos, ora em posições variadas, criando um parentesco fônico entre palavras presentes em dois ou mais versos” (p. 45). Existem rimas específicas:

- Rima interna: as sonoridades semelhantes estão presentes no interior dos versos;

- Rima externa: as semelhanças vocálicas estão no final de cada verso;

- Rima consoante: semelhança de sons entre vagais e consoantes;

- Rima toante: semelhança sonora na vogal tônica das palavras;

- Rimas cruzadas ou alternadas; emparelhadas ou interpoladas e misturadas: utilizando letras para facilitar a exemplificação, numa rima com esquema “ABAB” nota-se a alternância; já no esquema “CDDC”, as rimas DD são emparelhadas e as rimas CC são interpoladas; por último, as rimas misturadas seguem outro tipo de organização.

 8. Figuras de efeito sonoro

No presente capítulo são abordadas as seguintes figuras de sons: Aliteração (repetição de consoantes); Assonância (repetição de vogais); Paranomásia (repetição de um grupo de mesmas consoantes e vogais); Anáfora (repetição de palavras) e Onomatopéia (imitação dos sons).

9. Poemas de forma fixa

São poemas de forma fixa: balada; vilancete, ode; canção; madrigal; elegia; idílio (ou écloga, ou pastoral); rondó (ou rondel); epitalâmio; triolé; sextina; haicai e soneto. Todavia, consoante a própria autora conduz o capítulo, estudaremos o mais expressivo e conhecido, qual seja, o soneto.

O soneto é a forma fixa mais apreciada pelos poetas, leitores e estudiosos (dentre os quais se destacaram: Camões e Shakespeare), possui 14 (quatorze) versos decassílabos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos rimados em ABBA, ABBA, CDC e DCD.

10. Níveis do poema

Os níveis do poema são três:

- Nível lexical: observando-se a categoria gramatical das palavras e o nível de linguagem, pode-se ter uma visão geral do poema e melhor interpretá-lo;

- Nível sintático: observa-se a organização das palavras, ou seja, ocupa-se da análise sintática literalmente, como por exemplo: repetição de palavras (anáfora, polissíndeto, refrão), ordem indireta (inversão), termos ocultos (elipse, zeuma, assíndeto), encadeamento e outras formas de organização que deixam o contexto do poema mais abrangente;

- Nível semântico: deve-se atentar para os significados das palavras e aos sentidos de versos e estrofes, sendo rotineira a presença de figuras de similaridade, como por exemplo: comparação, metáfora, alegoria, antítese e o paradoxo, que aproximam o autor do “eu” lírico e deixam a obra mais complexa (como já mencionado na plurissignificação do poema).

 11. Estabelecendo relações

Neste capitulo a autora dá o devido desfecho a sua obra analisando o poema “Canção”, de Cecília Meireles, no qual se observa o esquema rítmico de 6 (seis) sílabas, sendo as tônicas ou mais fortes: 3 (três) e 6 (seis) – ER6 (3-6), bem como, o aspecto sonoro, a construção sintática e semântica.

Consoante a própria autora afirma no livro, a análise adequada, complexa e fluente é fruto da leitura contínua e exaustiva, “não há receitas”, de sorte que, resta ao leitor exercitar sua capacidade de interpretação e aprimoramento.

 
Bibliografia: GOLDSYEIN, NORMA. Versos, Sons, Ritmos. Série Princípios; Editora Ática; 10º edição; São Paulo, 1998.

3 comentários:

  1. ADOREI SEU BLOG, ELE IRÁ ME AJUDAR PARA A PROVA DE AMANHÃ, MUITO BOM EU RECOMENDO.

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    1. O objetivo é contribuir com meus colegas de letras. Em breve tentarei retomar e atualizar a página.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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