terça-feira, 25 de dezembro de 2012

SANGUE

Sangue vertical,
Carne e espinho
Pedras a caminho.
Doença visceral.

Sangue em minha alma
Virei o sódio
Toquei o ódio,
Com minha palma.

Pegada vermelha,
No chão branco,
Quebrada a telha

O fúnebre canto,
Que zumbe na orelha
Matei o santo!

Autora: Karla Purcino (estudante de Letras, apaixonada por literatura e poesia)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

VIDA LONGA

Lembrei desse sentimento
Gritando dentro de nós
Éramos todos meninos
E em cada um vivia uma paixão

Como na cena de um filme
Vencemos pesadelos
Enfrentando os dragões
Criados por nossos medos
Fruto da imaginação

De frente a uma nova era
Na onda de uma canção
Nós construímos história
Mente, alma e coração

Vida longa às barreiras
Que atravessamos
Todas as luzes do reino brilharam
Só pra mim e pra você
Eu estava gritando "vida longa"
À magia que fizemos
E tragam os fingidores
Um dia seremos lembradas

Eu disse "lembrei desse sentimento"
Eu passei as fotos adiante
De todos os anos que estivemos
Lá do lado de fora desejando por agora

Somos os reis e as rainhas
Você trocou seu boné de beisebol por uma coroa
Quando eles nos deram os nossos troféus
E nós os levantamos pela nossa cidade

De frente a uma nova era
Na onda de uma canção
Nós construímos história
Mente, alma e coração

Vida longa às barreiras
Que atravessamos
Todas as luzes do reino brilharam
Só pra mim e pra você
Eu estava gritando "vida longa"
À magia que fizemos
E tragam os fingidores
Não tenho medo

Vida longa às montanhas que movemos
Eu me diverti muito
Lutando com dragões junto à você
Eu estava gritando "vida longa"
Àquele seu olhar
E tragam os fingidores
Um dia seremos lembradas

Segure-se
Para girar
Confetes caem no chão
Talvez essas lembranças amparem nossa queda

Lembrei do momento
Que fiz promessa pra nós dois
Pintando o nosso destino
Puro e simples, pleno
E sem fim

Que fosse assim
Sem um "goodbye"
Fosse pra sempre um "cheguei"
O sonho que construímos
Me vi feliz, eu te achei

Será muito mais
Que achar
Será muito além
Que pensar

Vida longa às barreiras
Que atravessamos
Eu me diverti muito com você

Vida, vida longa às barreiras
Que atravessamos
Todas as luzes do reino brilharam
Só pra mim e pra você
Eu estava gritando "vida longa"
À magia que fizemos
E tragam os fingidores
Não tenho medo

Cantando
Vida longa às montanhas que movemos
Eu me diverti muito
Lutando com dragões junto à você

Vida, vida longa
Àquele seu olhar
E tragam os fingidores
Um dia seremos lembradas
 
Autora: Taylor Swift (By Paula Fernandes)
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PARA VOCÊ, COM CARINHO.

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade
que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite
que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem
intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido
todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os
meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o
quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer
o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão
incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não
declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de
como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu
equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto
pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida
ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma
lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da
vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando
comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e,
principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que
são meus amigos.
 
Autor: Vinícius de Moraes
 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Pátria ou exílio: eis a canção.

Na minha terra há miséria,
A fome ceifa muitas vidas
Enquanto nossas riquezas
Vão para mãos indevidas.

O nosso céu está mais escuro,
Em nossa terra há menos flores,
Os passarinhos que restam,
Cantam nossos amargores.

Passear sozinho à noite,
Não se pode nem pensar.
Insegurança, medo e morte,
Sempre a nos espreitar.

Minha terra tem dissabores
Que dá vergonha contar.
É rico roubando pobre;
Criam leis para se roubar.
E o povo que sofre tanto,
Ainda tenta cantar.

Não permita Deus que eu morra
Sem ver meu povo sorrir,
Por desfrutar os primores
Que não encontra hoje aqui;
Por ser feliz de verdade
E não apenas fingir.

Autor: Marcelo Marques Ferreira (baseado em: Canção do Exílio - Gonçalves Dias)
Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos 2012 (UNICSUL).





Razão de Ser

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?


Autor: Paulo Leminski

Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos 2012 (UNICSUL).
Aluno: Wanderson Alves de Jesus

MOTIVO


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Autora: Cecília Meireles

Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos 2012 (UNICSUL).
Aluno: Wanderson Alves de Jesus.




REPRISE

Todo dia eu me lembro
E ando um pouco assustado
Com o caminho das coisas,
Como temos passado.
Já não reconhecemos
O nosso esforço diário
De nos mantermos acesos
Para encontrar o acaso.
Ainda quero estar certo
Em qualquer lugar errado
Quero estar em terraços
Em pedaços de espaço
E de textos azuis
Somente a viagem
Esta trilha infindável
Diverte a alma
De um corpo mutável
De uma mente incerta
Que divide a cidade
Que divide o metro
E que desbota de tarde
Eu quero aprender contigo
E me perder sozinho prá
Escapar da solidão.
A vejo tão linda
Mas tempo parou,
O vento correu
E o instante passou.
Entenda pequena como demonstro o amor
E como corre a cidade com todo esse calor...
E as nuvens todas tão alvas
Que mente delira e o álcool devora
E a TV me destrói
E o amor me distrai
Meu bem somos apenas
Reprises de velhos intercines.
 
Autor: Adriano da Silva Pereira
Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos 2012 (UNICSUL).

A RUA DA MORTE.


Todos os dias há de morrer alguém, fato este, que acomoda uma vizinhança que espera impacientemente sua hora. Primeiro fora Manuel, dono de um bar muito requisitado, quando numa noite comum partira sem deixar recado.

Seus familiares, muito bravos, não recebera ninguém para visita dos pêsames, entretanto não achavam justo todos saberem de sua hora de partida e não deixar-se nem se despedir. Augusto, o dono da padaria, no dia seguinte também se foi, a única coisa que ficou foi a lembrança de seus maravilhosos pãezinhos, que servira em nossas mesas todas as manhãs.

Olha só, Clarice que dera antes todas as notícias de morte, hoje nos deixou e só agora fico sabendo, pois, a principal informante dos fúnebres acaba de partir. E assim se foi um a um nos deixando num ato egoísta de dar nos nervos, mas a certeza que nos deixara é que se vão e nunca mais voltam.

Corri para abraçar uns dos remanescentes da rua, mas todos me disseram que estavam com pressa que não tinham tempo a perder, coisas da vida e tal. Então percebi que algo estava errado, pois como eles são, sou também.

Moro na mesma rua e terei o mesmo destino que todos, porque então não corro, ou pelo menos me apresso os passos? Bom, enquanto não chega meu dia de morrer vou vivendo, aliás, me mudei para outra rua, a rua da vida.

Autor: Angleythom Fernando da Silva
Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos de 2012 (UNICSUL).



Mamã Negra (canto da esperança).

Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça,
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!


Pela tua voz
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...

Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama

Cuba
Brasil...

Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem Hill District South
vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na voz de Corrothers:
Lord God, what will have we done
- Vozes de toda América! Vozes de toda África!
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston

Na bela voz de Guillén...

Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aos sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor

[amaciando as mais ricas terras do mundo!
Rebrilhantes dorsos (ai, a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da

[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes dorsos (Ah, como brilham esses dorsos!)
ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!
Rebrilhantes dorsos...


brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
evade-te, ó Alma, nas asas da Música!


...do brilho do Sol, do Sol fecundo
imortal
e belo...


Pelo teu regaço, minha Mãe,
Outras gentes embaladas
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos poetas e sábios...


Outras gentes... não teus filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias,
mais são filhos da desgraça:
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo...


Pelos teus olhos, minha Mãe
Vejo oceanos de dor
Claridades de sol-posto, paisagens
Roxas paisagens
Dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo (Oh! se vejo!...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus

[olhos, ora esplende
demoniacamente tentadora - como a Certeza...
cintilantemente firme - como a Esperança...
em nós outros, teus filhos,
gerando, formando, anunciando -

o dia da humanidade
O DIA DA HUMANIDADE!...]

Autor: Viriato da Cruz
Poema selecionado para o Sarau de Letras em homenagem aos formandos de 2012 (UNICSUL).
Aluno: Douglas André.



 

 

 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Indicação de Leitura: LUUANDA, José Luandino Vieira


Queridos amigos.

Como bem sabemos os aspectos étnico-culturais relacionados à África, bem como ao povo Indígena, vêm sendo amplamente divulgados e difundidos na Educação. Este fato não é oriundo de “modismos” ou “segmentos fechados” de algumas áreas do ensino, é lei (10.639/03 e 11.645/08), subjacente de uma antiga necessidade: reconhecer nossa própria história e formação de identidade, assumindo-a, valorizando-a socialmente e garantindo que informações sejam acessíveis tanto no ambiente escolar, quanto social.
 
Nosso papel enquanto formadores é o de difundir as diversas culturas e nos engajar para a diminuição das desigualdades sociais, em geral, causadas pelo preconceito, autopreconceito, falta de acesso e divulgação do tema, de forma adequada à realidade linguística e cultural de nossa comunidade, bem como, despreparo na formação acadêmica de professores em geral.

É com esta perspectiva, que gostaríamos de apresentar àqueles que ainda não o conhece, e relembrar aos amigos que já possuem intimidade com a grandeza e importância de suas obras, o autor africano: JOSÉ LUANDINO VIEIRA.


Pseudônimo literário de José Vieira Mateus da Graça, que nasceu em Portugal, em 1935, mas emigrou com os pais para Angola em 1938. A luta contra a dominação portuguesa custou-lhe mais de uma década na prisão, onde escreveu boa parte de sua obra. Em 2006, recusou o Prêmio Camões invocando "razões pessoais e íntimas". Entre seus diversos volumes de narrativas, destacam-se os romances A vida verdadeira de Domingos Xavier e Nós, os do Makulusu (Ática, 1991).

 
Obra em destaque: LUUANDA
 
As três narrativas aqui reunidas retratam a dura realidade dos musseques angolanos - os bairros pobres de Luanda, onde o próprio autor viveu. "Minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela realidade. [...] Se a fome, a exploração, o desemprego, surgem com muita evidência [...] é porque isso era - digamos assim - o aquário onde meus personagens e eu circulávamos", afirma Luandino.  E, dura realidade à parte, Luandino cria personagens memoráveis. Como "vavó" Xíxi e seu neto, que, sem trabalho e sem dinheiro, não dispensa a camisa florida ou o amor de Delfina, para desespero da avó ("Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos"). Ou o Garrido Kam'tuta, atormentado pelo papagaio que ganhava as carícias que Inácia lhe recusava ("Estória do ladrão e do papagaio"). Ou "nga" Zefa e sua vizinha, que disputam a posse de um ovo de galinha ("Estória da galinha e do ovo"). Essas histórias curtas, narradas com grande maestria e um colorido muito especial, buscam na oralidade inspiração para recriar a linguagem e nos fazem lembrar da nossa própria trajetória literária. 

O primeiro conto do livro, "Vavó Xíxi e Seu Neto Zeca Santos", reconstitui a vida difícil de uma mulher idosa que vive com seu neto numa cubata, que procura comida no lixo e come raizes de plantas para não passar fome, e não vê perspetivas para sair daquela situação de miséria extrema. Sem conscientização política, sem identificar no colonizador os inimigos de sua classe social, a avó e o neto vivem ao desamparo, a sós, sem esperança de mudança.

"A Estória do Ladrão e do Papagaio" relata o encontro de três marginalizados (dois angolanos e um cabo-verdiano) na cadeia: Xico Futa, aquele que sabe das coisas, Garrido Fernandes, aleijado de paralisia, e Lomelino dos Reis, que tem mulher e dois filhos e rouba patos porque não lhe autorizam trabalho honrado. Os três descobrem o valor da solidariedade para escapar da situação desesperadora em que vivem.

E finalmente a terceira e última história, "Estória da Galinha e do Ovo" ", tem como motor a disputa entre duas vizinhas - nga Bina e nga Zefa - pela posse de um ovo. Posto pela galinha Cabíri, que pertence a nga Zefa, no quintal de nga Bina, que está grávida e tem o marido preso, o ovo é reivindicado por ambas, que alegam seu direito sobre ele. A solução do conflito se dá com a interferência de duas crianças - Beto e Xico - que, imitando o cantar de um galo, fazem com que Cabíri fuja das mãos de policiais que haviam sido chamados para intervir no caso e que pretendiam levar vantagem na situação. Depois disso, nga Zefa resolve abrir mão do ovo e oferecê-lo a nga Bina.

 
Fontes:
- Editora Companhia das letras: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02354

The Rime of the Ancient Mariner. Part I


It is an ancient Mariner,
And he stoppeth one of three.
'By thy long grey beard and glittering eye,
Now wherefore stopp'st thou me?


The Bridegroom's doors are opened wide,
And I am next of kin;
The guests are met, the feast is set:
May'st hear the merry din.'


He holds him with his skinny hand,
'There was a ship,' quoth he.
'Hold off! unhand me, grey-beard loon!'
Eftsoons his hand dropt he.


He holds him with his glittering eye—
The Wedding-Guest stood still,
And listens like a three years' child:
The Mariner hath his will.

The Wedding-Guest sat on a stone:
He cannot choose but hear;
And thus spake on that ancient man,
The bright-eyed Mariner.


'The ship was cheered, the harbour cleared,
Merrily did we drop
Below the kirk, below the hill,
Below the lighthouse top.


The Sun came up upon the left,
Out of the sea came he!
And he shone bright, and on the right
Went down into the sea.

Texto original: Samuel Taylor Coleridge
Versão: Iron Maiden

Paródia: Gostava Tanto de Você, By Tim Maia.

Minha graduação você findou
Quanta saudade vou sentir
E de alegria vou chorar


Aquele adeus preciso dar
Você marcou a minha vida
Viveu cresceu na minha história
Não tenho medo do futuro
Da profissão que em minha porta bate


E eu esperava tanto por você.
Esperava tanto por você


Sonhando com aquela toga azul
Canudo na mão da Cruzeiro do Sul
Posso confiar no que há por vir
Me preparei vou prosseguir
 

Não via a hora de terminar
Cheguei aqui vou aproveitar
Uma coisa não posso negar
A saudade agora vai pegar
Minha graduação você findou
Agora minha vida mudou
Só penso em Português/Inglês
quem sabe até em javanês...
 
Autora: Graça Bezerra
 
 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oração do Estudante de Letras

Pierce e Saussure que estão no céu
Santificada seja a Linguística e a teoria Semiótica
Que venham á nós o português padrão e que seja feita a vontade da gramática, tanto na língua inglesa como na portuguesa.
E que as obras de Clarice nunca deixe de nos guiar, perdoai nossos erros de acentuação, assim como nós perdoaremos os dos nossos futuros alunos.
E não nos deixei tropeçar na língua inglesa.
Mas livrai-nos do DP
Amém!

Autor: Sérgio Queiroz

Soneto do Ciúme

Com todo seu ciúme estarei em pânico
Penso em você como o espinho que me arranha
O que me encantava se tornou motivo de insônia
O que antes era até engraçado se tornou satânico.

 
Quero você longe em todos os momentos
Cansei de ouvir você me acusar de babar pela vizinha
Aquela que nunca me deu sequer uma chancezinha
Ao meu pesar e o seu contentamento

 
Sendo assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe na solidão terei uma noite de sono
Escondido em uma cova escura e bem profunda

 
Um dia possa esquecer esse pesadelo (que tive):
Que você não seja imortal, posto que é louca.
E que não se chame esperança, pois esta é a última que morre!

o nosso de cada dia nos daí hoje
Autor : Sérgio Queiroz
 

Bem Vindos Calouros

Eu não quero a sintaxe,
Prefiro a semântica.
Eu não quero o classicismo,
Prefiro ser romântica.

Eu não quero o verbo,
Prefiro o adjetivo.
Eu não quero o simbolismo,
Prefiro o modernismo.

Eu quero a liberdade do contemporâneo
A liberdade retórica de ser incompleta
De aprender, descobrir, questionar e ser liberta...

Quero ser eclética, quero a dialética
A teoria discursiva do fingimento
Artigos, seminários, provas e fichamentos!
Autora: Ana Paula Prado
 
 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Despeço-me...


É hora de partir, meus irmãos, minhas irmãs
Eu já devolvi as chaves da minha porta
E desisto de qualquer direito à minha casa.
Fomos vizinhos durante muito tempo
E recebi mais do que pude dar.
Agora vai raiando o dia
E a lâmpada que iluminava o meu canto escuro
Apagou-se.
Veio a intimação e estou pronto para a minha jornada.
Não indaguem sobre o que levo comigo.
Sigo de mãos vazias e o coração confiante.

Rabindranath Tagore
 
 


LISBON REVISITED (1923)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o a sê-lo.
Com todo o a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos (Heterônimo de Fernando Pessoa)
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Boas novas.


Queridos amigos.
Sejam todos bem vindos a esse novo espaço dedicado ao universo fabuloso das Letras, longe de um espaço inflexível ou estéreo, espera-se, o compartilhamento de opiniões, gostos literários, poesias, estudos linguísticos e peculiaridades de nossa cultura. Além da divulgação de obras artísticas livres das opiniões e discursos parciais da televisão aberta e outras mídias de segmento equivalente.

Nada melhor, meus caros amigos, para abrir esse espaço (que certamente corroborará para estudos científicos - graduação e mestrado) do que a bela crônica de Rubem Braga, você também esta convidado para comer de meu pão e beber de meu vinho.

Recado ao senhor 903

Vizinho –
 
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois
apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

(Rubem Braga).