sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Indicação de Leitura: LUUANDA, José Luandino Vieira


Queridos amigos.

Como bem sabemos os aspectos étnico-culturais relacionados à África, bem como ao povo Indígena, vêm sendo amplamente divulgados e difundidos na Educação. Este fato não é oriundo de “modismos” ou “segmentos fechados” de algumas áreas do ensino, é lei (10.639/03 e 11.645/08), subjacente de uma antiga necessidade: reconhecer nossa própria história e formação de identidade, assumindo-a, valorizando-a socialmente e garantindo que informações sejam acessíveis tanto no ambiente escolar, quanto social.
 
Nosso papel enquanto formadores é o de difundir as diversas culturas e nos engajar para a diminuição das desigualdades sociais, em geral, causadas pelo preconceito, autopreconceito, falta de acesso e divulgação do tema, de forma adequada à realidade linguística e cultural de nossa comunidade, bem como, despreparo na formação acadêmica de professores em geral.

É com esta perspectiva, que gostaríamos de apresentar àqueles que ainda não o conhece, e relembrar aos amigos que já possuem intimidade com a grandeza e importância de suas obras, o autor africano: JOSÉ LUANDINO VIEIRA.


Pseudônimo literário de José Vieira Mateus da Graça, que nasceu em Portugal, em 1935, mas emigrou com os pais para Angola em 1938. A luta contra a dominação portuguesa custou-lhe mais de uma década na prisão, onde escreveu boa parte de sua obra. Em 2006, recusou o Prêmio Camões invocando "razões pessoais e íntimas". Entre seus diversos volumes de narrativas, destacam-se os romances A vida verdadeira de Domingos Xavier e Nós, os do Makulusu (Ática, 1991).

 
Obra em destaque: LUUANDA
 
As três narrativas aqui reunidas retratam a dura realidade dos musseques angolanos - os bairros pobres de Luanda, onde o próprio autor viveu. "Minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela realidade. [...] Se a fome, a exploração, o desemprego, surgem com muita evidência [...] é porque isso era - digamos assim - o aquário onde meus personagens e eu circulávamos", afirma Luandino.  E, dura realidade à parte, Luandino cria personagens memoráveis. Como "vavó" Xíxi e seu neto, que, sem trabalho e sem dinheiro, não dispensa a camisa florida ou o amor de Delfina, para desespero da avó ("Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos"). Ou o Garrido Kam'tuta, atormentado pelo papagaio que ganhava as carícias que Inácia lhe recusava ("Estória do ladrão e do papagaio"). Ou "nga" Zefa e sua vizinha, que disputam a posse de um ovo de galinha ("Estória da galinha e do ovo"). Essas histórias curtas, narradas com grande maestria e um colorido muito especial, buscam na oralidade inspiração para recriar a linguagem e nos fazem lembrar da nossa própria trajetória literária. 

O primeiro conto do livro, "Vavó Xíxi e Seu Neto Zeca Santos", reconstitui a vida difícil de uma mulher idosa que vive com seu neto numa cubata, que procura comida no lixo e come raizes de plantas para não passar fome, e não vê perspetivas para sair daquela situação de miséria extrema. Sem conscientização política, sem identificar no colonizador os inimigos de sua classe social, a avó e o neto vivem ao desamparo, a sós, sem esperança de mudança.

"A Estória do Ladrão e do Papagaio" relata o encontro de três marginalizados (dois angolanos e um cabo-verdiano) na cadeia: Xico Futa, aquele que sabe das coisas, Garrido Fernandes, aleijado de paralisia, e Lomelino dos Reis, que tem mulher e dois filhos e rouba patos porque não lhe autorizam trabalho honrado. Os três descobrem o valor da solidariedade para escapar da situação desesperadora em que vivem.

E finalmente a terceira e última história, "Estória da Galinha e do Ovo" ", tem como motor a disputa entre duas vizinhas - nga Bina e nga Zefa - pela posse de um ovo. Posto pela galinha Cabíri, que pertence a nga Zefa, no quintal de nga Bina, que está grávida e tem o marido preso, o ovo é reivindicado por ambas, que alegam seu direito sobre ele. A solução do conflito se dá com a interferência de duas crianças - Beto e Xico - que, imitando o cantar de um galo, fazem com que Cabíri fuja das mãos de policiais que haviam sido chamados para intervir no caso e que pretendiam levar vantagem na situação. Depois disso, nga Zefa resolve abrir mão do ovo e oferecê-lo a nga Bina.

 
Fontes:
- Editora Companhia das letras: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02354

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