Queridos
amigos.
Como bem sabemos os aspectos étnico-culturais relacionados à África, bem como ao povo Indígena, vêm sendo amplamente divulgados e difundidos na Educação. Este fato não é oriundo de “modismos” ou “segmentos fechados” de algumas áreas do ensino, é lei (10.639/03 e 11.645/08), subjacente de uma antiga necessidade: reconhecer nossa própria história e formação de identidade, assumindo-a, valorizando-a socialmente e garantindo que informações sejam acessíveis tanto no ambiente escolar, quanto social.
Nosso papel enquanto formadores é o de difundir as
diversas culturas e nos engajar para a diminuição das desigualdades sociais, em
geral, causadas pelo preconceito, autopreconceito, falta de acesso e divulgação
do tema, de forma adequada à realidade linguística e cultural de nossa comunidade,
bem como, despreparo na formação acadêmica de professores em geral.
É com esta perspectiva, que gostaríamos de apresentar
àqueles que ainda não o conhece, e relembrar aos amigos que já possuem
intimidade com a grandeza e importância de suas obras, o autor africano: JOSÉ
LUANDINO VIEIRA.
Pseudônimo literário de José Vieira Mateus da Graça, que nasceu em Portugal, em 1935, mas emigrou com os pais para Angola em 1938. A luta contra a dominação portuguesa custou-lhe mais de uma década na prisão, onde escreveu boa parte de sua obra. Em 2006, recusou o Prêmio Camões invocando "razões pessoais e íntimas". Entre seus diversos volumes de narrativas, destacam-se os romances A vida verdadeira de Domingos Xavier e Nós, os do Makulusu (Ática, 1991).
Obra em destaque: LUUANDA
As três narrativas aqui reunidas retratam a dura
realidade dos musseques angolanos - os bairros pobres de Luanda, onde o próprio
autor viveu. "Minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela
realidade. [...] Se a fome, a exploração, o desemprego, surgem com muita
evidência [...] é porque isso era - digamos assim - o aquário onde meus
personagens e eu circulávamos", afirma Luandino. E, dura realidade à parte, Luandino cria
personagens memoráveis. Como "vavó" Xíxi e seu neto, que, sem
trabalho e sem dinheiro, não dispensa a camisa florida ou o amor de Delfina,
para desespero da avó ("Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos"). Ou o
Garrido Kam'tuta, atormentado pelo papagaio que ganhava as carícias que Inácia
lhe recusava ("Estória do ladrão e do papagaio"). Ou "nga"
Zefa e sua vizinha, que disputam a posse de um ovo de galinha ("Estória da
galinha e do ovo"). Essas histórias curtas, narradas com grande maestria e um
colorido muito especial, buscam na oralidade inspiração para recriar a
linguagem e nos fazem lembrar da nossa própria trajetória literária.
O primeiro conto do livro, "Vavó Xíxi e Seu Neto Zeca Santos", reconstitui a vida difícil de uma mulher idosa que vive com seu neto numa cubata, que procura comida no lixo e come raizes de plantas para não passar fome, e não vê perspetivas para sair daquela situação de miséria extrema. Sem conscientização política, sem identificar no colonizador os inimigos de sua classe social, a avó e o neto vivem ao desamparo, a sós, sem esperança de mudança.
"A
Estória do Ladrão e do Papagaio" relata o encontro de três marginalizados
(dois angolanos e um cabo-verdiano) na cadeia: Xico Futa, aquele que sabe das
coisas, Garrido Fernandes, aleijado de paralisia, e Lomelino dos Reis, que tem
mulher e dois filhos e rouba patos porque não lhe autorizam trabalho honrado.
Os três descobrem o valor da solidariedade para escapar da situação
desesperadora em que vivem.
E
finalmente a terceira e última história, "Estória da Galinha e do
Ovo" ", tem como motor a disputa entre duas vizinhas - nga Bina e nga
Zefa - pela posse de um ovo. Posto pela galinha Cabíri, que pertence a nga
Zefa, no quintal de nga Bina, que está grávida e tem o marido preso, o ovo é
reivindicado por ambas, que alegam seu direito sobre ele. A solução do conflito
se dá com a interferência de duas crianças - Beto e Xico - que, imitando o
cantar de um galo, fazem com que Cabíri fuja das mãos de policiais que haviam
sido chamados para intervir no caso e que pretendiam levar vantagem na
situação. Depois disso, nga Zefa resolve abrir mão do ovo e oferecê-lo a nga
Bina.
Fontes:
- Editora Companhia
das letras: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02354
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